sobre os processados

 
Os “Processados na USP” são todos os estudantes e trabalhadores que se levantaram contra as últimas medidas do reitor João Grandino Rodas na Universidade de São Paulo que, de forma bastante anti-democrática, estão sendo ameaçados de expulsão.

Agir para impedir o avanço de um projeto privatista na universidade, que está sendo implementado “na marra”, por meio da repressão, foi o “crime” de todos os
acusados. Rodas ficou em segundo lugar nas absurdas eleições para reitor (em que apenas o voto de uma pequena parcela de professores titulares tem peso real), mas mesmo assim foi indicado pelo governador então governador José Serra (PSDB) para tomar posse, em 2010. De lá para cá, ele promoveu a entrada da Polícia Militar no campus Butantã (prática pouco comum em campi universitários de todo o mundo), usou um arsenal de guerra para retirar os estudantes ocupados na reitoria e na moradia retomada; retirou dos alunos o espaço destinado ao Diretório Central dos Estudantes (DCE), diminuiu a frota de ônibus circulares internos, que facilitavam a locomoção da população do entorno da USP, organizou perseguições a diretores do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp) por quaisquer atitudes de resistência que tivessem, entre outras medidas que não param de ser disparadas.

Projeto privatista

Todas essas atitudes visam preparar campo para que haja relações cada vez mais próximas entre a universidade pública e a iniciativa privada, como a cobrança de mensalidades (algo que já ocorre em cursos de pós-graduação), restrição à entrada da população em geral e utilização dos recursos humanos e técnicos da universidade para pesquisas voltadas para o mercado. Em 2011, uma pesquisa desenvolvida pela Times Higher Education, em parceria com a consultoria QS (veja mais aqui) elegeu a USP como a melhor universidade da América Latina. No entanto, as críticas foram: "os estudantes não pagam nada, os funcionários são 'indemitíveis', e o currículo é antiquado e politizado".

Resquícios da ditadura
A repressão utilizada por Rodas para efetivar seus planos está baseada em uma estrutura arcaica, que ainda vigora na USP. Artigos que fazem parte do Decreto Estadual 52.906, de março de 1972 são os que prevêem a eliminação de estudantes e trabalhadores. Nele, é considerada infração “promover manifestação ou propaganda de caráter político-partidário, racial ou religioso, bem como incitar, promover ou apoiar ausências coletivas aos trabalhos escolares.” Esse decreto foi produzido em plena ditadura militar brasileira, numa época em que o Ato Institucional nº 5 estava em vigor.

No momento atual, em que a população começa a questionar a impunidade dos mandatários e torturadores da ditadura brasileira, por meio da Comissão da Verdade, a maior universidade brasileira não apenas se exime de discutir as perseguições que ocorreram na USP, como ainda utiliza de resquícios daquela época para punir os que têm posições divergentes com relação ao plano estabelecido pela reitoria. Um claro exemplo disso é que quem indicia, julga e pune os envolvidos nos suspostos crimes é apenas a reitoria, sem uma parte isenta que não tenha relação de benefício direta com os atos jurídicos. Trata-se de um processo análogo à inquisição, sem o mínimo de democracia.

Rodas, durante o período em que foi membro da Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos, votou contra a culpabilidade do Estado em 11 dos casos que julgou, entre eles o da estilista Zuzu Angel, morta por procurar justiça após a morte de seu filho Stuart. É esse o reitor que tenta reeditar uma universidade da ditadura.

Quem somos
Nós somos os estudantes e trabalhadores processados 
administrativa e criminalmente na USP, baseados no decreto Nº 52.906 de 1972, do Regimento Geral da USP, pelo reitor João Grandino Rodas na USP, mas não apenas isso. Para este blog também contribui uma rede de apoiadores que repudia todas as atitudes ditatoriais e o projeto de universidade privatista.

Por fim, apesar de parecer um mero detalhe, não somos os processados DA USP, mas os processados NA USP, pois nos solidarizamos com tantas situações análogas que ocorrem com estudantes e trabalhadores no Brasil e no mundo.

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